O nome deste bonito e sóbrio solar provém-lhe de estar situado na Rua do Caminho de Baixo, nome por que antigamente era conhecida a Rua do Rossio.
A casa foi construída pelo Dr. Manuel da Assunção da Rocha, antepassado dos Feyos de Figueiredo, que nela residiram durante muito tempo.
Sabe-se que aqui viveram e/ou foram proprietários, ao longo dos séculos XIX e XX, Luís António de Figueiredo e Rocha (1818-1826), Mariana Antónia de Figueiredo (1834), António Ludovico Guimarães (1859-1867), José de Oliveira e sua mulher Francisca Margarida, António Correia de Almeida Lucena e família (1874-1890), Joaquim de Almeida e Silva (1890), Aureliano de Almeida Barrigas (até 1948), Manuel Ferreira Correia Lopes Barrigas (1948-1954), Teresa de Jesus Martins Frutuoso (1954-1977) e Manuel dos Santos Reis, que a vendeu em 1982 à Câmara Municipal.
Refira-se que, para além da vocação natural de residência familiar, a Casa conheceu sucessivamente outras ocupações. Entre essas ocupações, nos anos 80 e 90 do séc. XIX foi o mais importante salão de baile da vila, especialmente em momentos festivos, com realce para a época carnavalesca, conhecido sob as designações de “Salão de Baile do Caminho de Baixo”, “Sala Recreativa” e “Grande Salão de Recreio”. Foi depois colégio de ensino primário feminino, inaugurado em 8 de dezembro de 1896 sob a designação de “Colégio de Nossa Senhora da Conceição”. Em 1897, instala-se nela o Liceu Nacional de Vila Real, nela permanecendo até à sua transferência para o edifício construído pelo Monsenhor Jerónimo Amaral, em 1901. No ano seguinte, é a vez de se instalar na Casa a Repartição de Fazenda e Recebedoria do Concelho, sendo parte da mesma residência do recebedor do concelho. Nos tempos heroicos das Corridas, nos anos 30 do séc. XX, foi um dos lugares onde se fazia a reparação dos carros nelas participantes. Mais tarde, foi sucessivamente: quartel da Guarda Nacional Republicana, Museu Etnográfico da Província de Trás-os-Montes e Alto Douro, local de preparação e saída das célebres Marchas Luminosas, Escola do Magistério Primário, e, nos seus baixos, em tempos mais recentes, armazém de ferragens e materiais de construção da Casa Calado.
É, desde 30 de outubro de 1997, Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.
Benemérito do Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real - doou toda a sua coleção de numismática e arqueologia à Câmara Municipal de Vila Real que, com ela, fundou este Museu.
Natural de Águas Santas, freguesia de São Tomé do Castelo (Vila Real), nasceu a 13 de maio de 1932, como o décimo filho de uma família que viria a ser constituída por doze irmãos.
Frequentou o Curso Teológico no Seminário de Vila Real, tendo tirado a Licenciatura em Teologia na Universidade Católica, no Porto. Em 1957, recebeu a ordenação sacerdotal.
Padre, Professor, Investigador, Numismata, Arqueólogo, Colecionador, Escritor, Caçador, Motar – é um autodidata, amante de história. Homem de sorriso fácil, de uma cultura excecional, gastou grande parte das poupanças de uma vida a colecionar moedas, arqueologia e a editar livros.
Como sacerdote, foi pároco nas freguesias de Pensalves, Afonsim e Parada de Monteiros, concelho de Vila Pouca de Aguiar, desde 1957 a 1963; Andrães, concelho de Vila Real, desde 1963 a 1967; Provezende e São Cristóvão do Douro, concelho de Sabrosa, desde 1967 a 1969 e Vila Marim e Mondrões, concelho de Vila Real, desde 1971; acumulando o cargo de pároco em Parada de Cunhos, no mesmo concelho de Vila Real, desde o ano de 1988.
Como professor, foi professor de Português e História no Colégio Particular de Vila Pouca de Aguiar, desde 1959 a 1964; de Inglês no Colégio Particular de Sabrosa, desde 1964 a 1969; de Inglês no Seminário de Vila Real, desde 1969 a 1985; de Moral na Escola Preparatória Diogo Cão, Vila Real, desde 1975 a 1980 e de Arqueologia na Universidade Sénior.
Como investigador e outros, foi sócio da Sociedade Portuguesa de Numismática, desde 1979, n.° 2087; Delegado do IPPC no Distrito de Vila Real desde 1980 a 1985; Presidente da Comissão de Arte Sacra da Diocese de Vila Real, desde a sua instituição, no ano de 1991; Presidente da APAC, no concelho de Vila Real, desde 1983; Membro Correspondente da Academia Portuguesa da História desde 20 de março de 1996, com o número 346; Consultor Cultural da Câmara Municipal de Vila Real, na área de Museologia, desde 1995, com o encargo de criar o Museu de Arqueologia e Numismática, ao qual doou o acervo; Diretor do Museu de Arqueologia e Numismática desde 1995; realizou o Inventário da Arte Sacra nos concelhos de Alijó e Boticas, por incumbência do IPPC, fez a inventariação dos cruzeiros do Distrito de Vila Real para os Monumentos Nacionais e é Membro da Academia de História Galega. Esteve à frente da construção ou dos restauros realizados nas igrejas ou capelas das seguintes localidades: Afonsim, Reguengo, Provezende, São Cristóvão, Vila Marim, Agarez, Arnal, Quintela, Senhora da Paz (Vila Marim), Mondrões, São Roque (Mondrões), Quintelas, Sapiães, Bisalhães, Parada de Cunhos, Relvas e Granja. Por sua intervenção fez-se também o restauro da Torre Medieval de Quintela.
Numismata, colecionador de moedas, apelidado por muitos “Padre João das moedas”, demorou cerca de 30 anos a juntar o acervo que doou à Câmara Municipal de Vila Real. O protocolo entre a Câmara Municipal de Vila Real e o Padre João Parente celebrou-se em 1987, havendo o compromisso da parte da Câmara em instalar todo o acervo num edifício próprio – o atual Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real. As moedas estão balizadas entre o século V a.C e o século VIII d.C. Na sua maioria da época do Império Romano, embora haja numismas gregos, cartagineses, luso-romanos, hispano-romanos, da república romana, visigóticos e bizantinos. A maioria das moedas foi encontrada na região de Trás-os- Montes.
Arqueólogo, ao longo de 30 anos recolheu um conjunto considerável de objetos arqueológicos, também expostos no Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real, encontrados nos distritos de Vila Real e Bragança.
Como escritor, tem publicados 30 livros e centenas de artigos. Alguns exemplos:
Curiosidades acerca da coleção do Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real
Não sabe quanto investiu nas coleções, mas em “trabalho foi mais de trinta anos”. As poupanças “iam para as moedas e peças arqueológicas”. Só os verdadeiros apreciadores “é que compreendem o tempo passado junto das moedas”. Nestas tarefas não existem apenas vitórias. “Apanhei doenças devido ao pó das moedas”.
O primeiro episódio que motivou a sua paixão pelas moedas é contado na primeira pessoa com um grande entusiasmo: estando a substituir um padre no Concelho de Alijó, durante uma conversa com “três rapazitos”, estes lhe disseram que existia um castro numa localidade próxima onde apareciam “pacharricas”, ao visualizar este achado do século IV o padre, ainda jovem, deu-lhes o dobro daquilo que os rapazes pediam “cinco coroas por cada uma delas”. Curioso e apaixonado, no domingo seguinte voltou à terra do Tesouro, e apareceram tantas pessoas com moedas, que não tinha dinheiro para as comprar todas.
Surgiu então a necessidade de as ordenar e catalogar, para isso contou com um livro que comprou em Londres, sobre numismática romana. Embora fosse um começo, adquiriu outros livros com mais informação para o ajudar neste estudo demorado.
Neste domínio, tudo o que aparecesse na região de Trás-os-Montes “não deixava escapar nada”. O gosto pelas moedas era tanto que, “às vezes, ficava com dificuldades económicas”. E acentua: “juntei perto de 40 mil moedas romanas”. Seguidamente, começou a colecionar moedas gregas, visigóticas, cartaginesas, ibéricas e luso-romanas. Fez um leque cronológico que ia do ano 450 a.C. até ao ano 702 d.C. “Tinha uma moeda mandada cunhar por Pôncio Pilatos” – afirma com alguma emoção.
Era uma coleção tão extensa que “não sabia o que fazer a tanta moeda”. Nunca quis vender o fruto de milhares de horas de trabalho. “Sou natural de Vila Real e queria fazer o museu nesta cidade” – realça o numismata.
Assim nasceu o Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.
É conhecido a nível nacional e internacional. Um dia enviaram-lhe uma carta de Viena (Áustria) com o seguinte endereço: Padre João das Moedas – Portugal. “A carta veio cá ter a casa” – salientou.